Quando compramos uma nova roupa significa que aquela
que tínhamos não nos serve mais, ou simplesmente, queremos inovar nosso
vestuário. Quando tratamos da roupagem do volei, essa analogia torna-se um
pouco mais complexa, porém, segue a mesma lógica.
Se há uma nova roupagem, é porque a antiga foi
substituída por não servir mais, ou porque se fez necessário uma inovação?
A trajetória do volei realmente tomou novos rumos
quando foram iniciadas as parcerias com empresas. Uma nova roupagem foi elaborada,
iniciaram-se as associações esportivas que proporcionam uma nova caminhada para
essa modalidade esportiva.
De acordo com essa nova realidade, muitas mudanças
aconteceram no contexto do voleibol. Os dirigentes trabalharam sob novas
perspectivas, obtendo novas visões sob a forma de dirigir suas equipes em comparação
aos primeiros campeonatos brasileiros. Fica evidente que a estrutura
profissionalizante do voleibol não se estruturou de imediato, mas a maioria dos
clubes se esforçou para isso. A criação do voleibol como forma de lazer dá
lugar ao negócio, os empresários enxergam neste esporte possibilidades da
divulgação de seus produtos.
A década de 80 foi primordial nessa passagem do
voleibol ao mundo dos negócios. É o período de grandes contratos publicitários
e da grande cobertura da mídia, assim como, de grandes premiações nos torneios
internacionais. Foi uma época de adequação ao formato televisivo (MARCHI JR.,
2001).
No conjunto das adequações, o tempo de partida
deveria ser diminuído, para compor, de forma previsível, a programação da
televisão.
Assim foi introduzido um novo sistema de pontuação,
no qual a vantagem é eliminada e passa a prevalecer a pontuação direta, ou
seja, no sistema único de “tie-break”. As partidas teriam um maior número de
pontos para que não terminassem tão rapidamente. Subiu para 25 o número de
pontos necessários para a vitória de um “set”.
O volei foi, então, adequado à previsibilidade de
tempo de partida, condição para tornar-se espetáculo televisivo. Isso não
aconteceu ainda com o tênis, por exemplo! É freqüente a exibição de partidas de
tênis em TV “aberta”?
O tênis é um típico esporte que não interessa à
televisão, por não possuir uma previsibilidade, o tempo pode variar de uma, até
quatro horas.
Cabe um questionamento sobre a divisão existente
entre televisão aberta e a televisão fechada. Você saberia dizer qual o motivo
desta divisão? Quem pode hoje, no país, ter em suas casas a televisão fechada (paga)?
É evidente que o processo de elitização não ocorre somente no
esporte de modo geral, ocorre principalmente na
sociedade como um todo. O acesso às televisões fechadas é restrito àqueles que
podem pagar por este entretenimento. Aos demais, resta a TV aberta e suas
ofertas de diversão massificadas.
Outra exigência para que a espetacularização do
voleibol se efetivasse, foi a necessidade de evolução técnica e tática dos
jogadores, para que a bola não caísse rapidamente e a partida terminasse em
pouco tempo. As regras neste momento foram alteradas com o objetivo de ajustar
o jogo, de forma que o espetáculo fosse mais “belo” e suficientemente duradouro
aos olhos do telespectador.
Ainda atendendo as necessidades de espetacularizar o
voleibol, houve a inserção de bola colorida. Isso objetivava tanto facilitar a
marcação do árbitro quanto a
visualização e o acompanhamento do telespectador.
Outra alteração significativa, inserida para impor
uma forma ainda mais espetacularizada, e que mexeu de forma direta no tempo de
bola em jogo, foi a criação de um jogador com função específica, defender. O
líbero foi criado para que a bola não tocasse o chão com tanta facilidade.
Com as novas regras, o saque pode tocar a fita,
aumentando a expectativa. O técnico teve sua área ampliada para toda a extensão
de seu lado da quadra, o que aumentou a interatividade entre público, técnico e
jogadores.
O tempo destinado às equipes também sofreu
alterações. O motivo pelo qual foi instituído o chamado tempo “técnico”, no
oitavo e décimo sexto ponto, foi oportunizar o anúncio dos produtos dos
patrocinadores para que possam vender suas imagens ao grande público. Essa
alteração, provavelmente, tenha passado despercebida ao conjunto de
espectadores, porém coloca, de maneira definitiva, o voleibol como um negócio
muito interessante para os diversos investidores.
fonte: Livro didático público Educação Física / vários autores. – Curitiba: SEED-PR, 2006. –248 p.
ISBN: 85-85380-32-2
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